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BAKHTIN E A FONOAUDIOLOGIA – AFASIAS E DOENÇA DE ALZHEIMER IVONE PANHOCA – FONOAUDIOLOGIA – PUC-CAMPINAS

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Venho estudando, na Faculdade de Fonoaudiologia da PUC-Campinas, o discurso narrativo de afásicos e de pessoas com Doença de Alzheimer, focando conceitos elaborados por Bakhtin, uma vez que a adoção de tais conceitos possibilita a valorização de processos dos quais esses sujeitos se utilizam para a construção de significações na linguagem e pela linguagem, com mediações do terapeuta.

Nessa linha de raciocínio entende-se que os sujeitos desenvolvem um trabalho sobre o “material” disponibilizado na/pela língua.

Apresento, abaixo, breves reflexões (na verdade, fragmentos de reflexão) mostrando como procuro trabalhar tanto com as afasias quanto com a Doença de Alzheimer (D.A.) à luz de conceitos bakhtinianos.
Conceitos bakhtinianos enfocados na minha prática terapêutico-fonoaudiológica : enunciado, dialogismo, acabamento, querer dizer (intuito discursivo), compreensão ativo-responsiva, polifonia, excedente de visão, contra-palavra.

Como exemplo, considerada a limitação de espaço que me imponho aqui, proponho refletirmos um pouco sobre o conceito de enunciado e sua “função” na terapia fonoaudiológica de base discursiva.

Considerado como a alternância dos papéis entre locutores e interlocutores, a concepção bakhtiniana de enunciado, ao contrário de conceitos como os de sentença e frase, pode ser aplicada às produções lingüísticas tanto de sujeitos afásicos quanto de pessoas com Doença de Alzheimer, mesmo aqueles com expressão oral bastante reduzida, com produções que não podem ser subdivididas em unidades convencionais da língua. Parafasias, jargonafasias e “fragmentos” que fogem ao alcande de unidades como “palavras” ou “sentenças” podem ser estudadas, em ambos os casos, do ponto de vista dessa concepção de enunciado.

Importante considerar, ainda, que os vários conceitos bakhtinianos, mencionados acima, se entrelaçam no estudo dos quadros afásicos e da Doença de Alzheimer, se/quando tal estudo é efetuado em uma perspectiva discursivamente orientada.

AFASIAS E DOENÇA DE ALZHEIMER
PROCESSO TERAPEUTICO-FONOAUDIOLÓGICO COM PONTOS EM COMUM, À LUZ DE CONCEITOS BAKHTINIANOS

Enunciado, dialogismo, acabamento, querer dizer (intuito discursivo), compreensão ativo-responsiva, contra-palavra, são conceitos que se entrelaçam no estudo de quadros afásicos e da Doença de Alzheimer, uma vez que possibilitam o estudo dos enunciados produzidos pelos sujeitos acometidos, assegurando a eles legitimidade dentro do processo dialógico.

Nos processos (de compreensão) ativo-responsivos, a fala do outro coloca tanto o sujeito afásico quanto aquele com Doença de Alzheimer na necessidade da busca de sentido. O que, por sua vez, faz com que o sujeito que busca compreender volte-se para o enunciado do outro, dando seguimento à cadeia.

A compreensão, portanto, resultará da inter-conexão entre os recursos lingüístico-expressivos utilizados pelo locutor com os recursos lingüístico-expressivos utilizados pelo interlocutor, em um processo contínuo, na cadeia discursiva. Portanto, como já foi dito aqui, enunciado, dialogismo, acabamento, querer dizer (intuito discursivo), compreensão ativo-responsiva, contra-palavra, são conceitos que se entrelaçam no trato com as produções lingüístico-expressivas tanto de afásicos quanto de pessoas com Doença de Alzheimer.

Além disso, dentro da perspectiva bakhtiniana, em ambos os casos aqui enfocados, deve-se considerar, na análise lingüística : contexto de fala, relação do falante com o ouvinte, momento histórico, sendo de fundamental importãncia, portanto fatores como : de que forma o afásico se relaciona com suas limitações linguísticas....que “peso” tem a Doença de Alzheimer naquela família....que relação (anteriormente ao acometimento) aquele cuidador mantinha com o sujeito acometido.....

AFASIAS E DOENÇA DE ALZHEIMER
ESPECIFICIDADES DO PROCESSO TERAPEUTICO-FONOAUDIOLÓGICO, À LUZ DE CONCEITOS BAKHTINIANOS

As especificidades de cada um dos quadros enfocados : afasias e Doença de Alzheimer, fazem com que sejam observadas diferenças na forma como os conceitos bakhtinianos se disponibilizam para “uso terapêutico”, no trato com afásicos e com pessoas com a DA.

Por exemplo : o afásico, muitas vezes recorrendo a outras semioses que não a oralidade e a escrita (gestos, desenho, expressões corporais), expõe claramente o intuito discursivo, o que coloca seu enunciado em “ponto de acabamento”, deixando o terreno preparado para a intervenção do terapeuta.
O mesmo não se observa com relação à Doença de Alzheimer, quadro em que os comprometimentos de cognição (em especial de memória) e de orientação temporal levam a progressiva desorientação na trama discursivo-narrativa.

A fala do outro tem mais dificuldade de deflagrar, no sujeito com DA - em especial em fases mais adiantadas - um esforço de busca de construção de sentidos, mostrando-o com intuito discursivo cada vez menos presente.
Os comprometimentos da cognição, em especial da memória, e da linguagem, comprometem a capacidade de tais sujeitos de estabelecer relações entre os recursos utilizados pelo locutor e os recursos que deveriam ser utilizados por ele, na cadeia discursiva. Dessa forma, a partir de certo ponto de evolução da doença, o sujeito com DA - cada vez mais distanciado da sua própria língua(gem) - cada vez mais foge ao alcance do terapeuta e da sua principal ferramenta terapêutica : a linguagem oral.

Na medida em que isso ocorre ganha mais e mais espaço, no processo terapêutico-fonoaudiológico, o cuidador, com quem o terapeuta passa, agora, a atuar de forma direta. Atuando junto a ele, o terapeuta estará visando relações interativas de qualidade suficiente para “fazer diferença” no processo de reinserção social (familiar, ocupacional, conjugal, etc.) do sujeito acometido.

Fonte: Clique Aqui

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